12/05/2018

ECO-ATIVISMO E O MONSTRO MENSTRUAL


Sister Circle de Karen MacKenxie. Fonte: FineArtAmerica
Não. A minha intenção aqui não é fazer um texto sobre o ecofeminismo! Sim. Este assunto também é muito relevante, mas imagino que o tópico sobre o qual falarei é também deveras interessante.
 
Todas as mulheres ou vão usar ou já usaram ou usam absorventes. Todos os meses milhões de mulheres vão ao supermercado e compram e financiam toda uma indústria voltada para elas. Antigamente, os famosos absorventes eram conhecidos como “Modess”, pois não existiam muitas marcas no mercado. Com o tempo, surgiram novas marcas, com embalagens elegantes ou coloridas, algumas desenhadas. Depois , surgiram os protetores de calcinha, os absorventes noturnos, os absorventes para adolescentes, os com cheiro, os internos, os sabonetes e desodorantes íntimos e até caixinhas especiais para guardá-los.
 
Ir ao mercado todos os meses para comprar esses produtos nos parece muito familiar atualmente, mas esquecemos que todos os anos bilhões de absorventes e protetores são descartados no lixo e que eles não são recicláveis. Vamos aos números:
Durante todo o ciclo reprodutivo de uma mulher ela gera de 10 a 15 mil absorventes, cada um demorando 100 anos para degradar (fonte: Ambiente Brasil). Além do problema ecológico e das montanhas de lixo geradas, os absorventes atuais, apesar de cheios de borboletas e arco-íris nas embalagens, contêm uma série de substâncias nocivas para a saúde humana. 
 
Lixo contendo fraldas e absorventes. Fonte: 
AmbientalSustentável
Uma delas é o asbesto, que aumenta o poder de absorção. Ele, junto com outras substâncias absorventes, como o poliéster, acetil celulose, colágeno, carboximetil celulose, álcool polivinil e poliuretano, vem sendo relacionado à síndrome do choque tóxico. 
Produzida pela bactéria Staphylococus, a qual é simbiótica com o organismo, ela pode levar à morte, devido à produção de toxinas letais por esta bactéria, a qual por falta de umidade e modificação do meio interno vaginal,  dado pelos absorventes internos, reproduz-se descontroladamente  (fonte: The Ecologist).
 
Por fim, absorventes com odor podem causar alergias em mulheres com pele mais sensível e protetores de calcinha, bem como absorventes externos, abafam a região e retiram a umidade protetora, podendo gerar doenças, principalmente infecções fúngicas.
Pelo bem da natureza e pelo bem de nós mesmas, para quê continuar a maratona de supermercado se existem alternativas atualmente?
Muitos fabricantes já produzem absorventes reutilizáveis. O quê? Imagino que vocês devem estar espantados e com nojo.
 
Absorventes reutilizáveis. Fonte: PensezVert.
 
Amigos, antes de falar deles preciso escrever sobre algo que está totalmente introjetado em nossas mentes: o sangue menstrual como sendo sujo. Quando alguém se machuca e sai sangue, algumas pessoas o lambem; outras mostram para o colega do lado e outros simplesmente limpam o ferimento. Ninguém, em hipótese alguma, parece ter nojo desse sangue e todos que já se feriram sabem que ele não cheira mal. O sangue menstrual é um sangue como esse, mas sai pela vagina. Se a menstruação pode levar ao mau cheiro, isso se deve ao sangue oxidado e cheio de bactérias, que fica alojado no absorvente por muito tempo. O sangue novo, apenas tem cheiro de sangue.
 
Devemos nos libertar do mito da sujeira
e do nojo. Fonte: ATalMineira
 Agora, sigam meus raciocínio: se não sentimos nojo, com o sangue que sai de qualquer parte do corpo, mas sentimos nojo do sangue que sai da vagina, o problema não me parece ser o sangue, mas a vagina.
Assim amig@s, peço apenas para que reflitam esta questão, pois me parece que consideramos o sangue menstrual como sujo porque a vagina suja o sangue, afinal, a vagina sempre foi vista como algo sujo e impuro pela nossa cultura Ocidental.
Voltando agora aos absorventes reutilizáveis e sabendo que não há porquê ter nojo desse sangue. Explico que esse tipo de absorvente é nada mais nada menos do que um paninho mais elaborado. Nossas avós usavam paninho e nós podemos fazê-lo também, só que com algumas comodidades. Primeiramente estes absorventes são paninhos que se acoplam em uma espécie de calcinha impermeável, que se fixa na calcinha original. Eles são feitos de algodão e não apresentam nenhuma substância tóxica ou oriunda do petróleo. Importante é que devem ser lavados a cada troca, colocados para secar e passados. Depois é só usar de novo! Geralmente quem usa esses absorventes possui várias toalhinhas.
Se vocês ainda quiserem ser mais ecológicos, a água com o sangue pode ser usada como adubo. Que horrível!
Amig@s, não se intimidem por isso. O sangue não é sujo. É uma substância que nós produzimos, rica em ferro e outros minerais. Eu sei que é preciso trabalhar muito com a ideia de que a menstruação não é suja, mas se eu consegui, você consegue!
Por fim, existe uma outra alternativa para aquelas que dizem que não conseguiriam perder tempo lavando o paninho. Atualmente existe uma série de marcas no mercado, voltadas para a divulgação dos copos menstruais.
Os copos menstruais são feitos de silicone medicinal e, portanto anti-alérgicos. Eles seriam um substituto ao absorvente interno, só que não causam síndrome do choque tóxico e são reutilizáveis por mais de dez anos. Imagine não jogar no lixo o referente a todos os absorventes que se usa em dez anos de vida? É muito lixo que não é produzido.
Copo menstrual. Fonte CBN
Os copos menstruais são amplamente utilizados na Europa e EUA e lá podem ser encontrados em farmácias. Eles  podem ser utilizados por meninas virgens, desde que elas não se preocupem com o hímen, e devem ser retirados uma vez ao dia ou menos dependendo do fluxo. Quando retirados devem apenas ser lavados com água corrente e fervidos no final do ciclo, conforme instrução do fabricante.
Interessante notar que eles não são absorventes, mas coletores. Coletam o sangue e mantêm o Ph e umidade vaginais típicos, prevenindo doenças, que a secura causada pelos absorventes geraria.
Eu acredito que a adoção destas alternativas nos leve a uma grande ação de anti-consumismo. Ela nos faz economizar dinheiro, auxilia o meio-ambiente e nos deixa livres da seção borboleta dos supermercados. Mais, essas alternativas nos previnem de doenças ginecológicas e nos auxiliam a conhecer melhor o nosso ciclo e nosso corpo. Abram seus pensamentos para um novo mundo! Mudar o mundo requer reflexões e mudanças que, para nós, seriam consideradas impossíveis. Se aprendemos a vida inteira que a vagina é suja ou nosso sangue, que a menstruação é algo vergonhoso e indigno, não se deixem levar. A mudança está em nós e somente com esforço e muita força de vontade conseguiremos ir além de nós mesmos. Aliás, não escrevi este texto apenas para mulheres. Espero que os homens também passem a ver a vida com mais naturalidade e com menos vergonha do que é o corpo deles e o da mulher.
 
Mais informações:
 
BROWSKI, A. Are American Women turning to reusable and greener menstrual products due to health and environmental pollution concerns? Digital Media Library Repository. Disponível em: https://ritdml.rit.edu/handle/1850/15124. Acesso em: 28/08/2012.
 
WORCESTER, A. Menstruation Activism: Is the Personnal Still Political? Sex Roles, 2011. Disponível em: http://www.springerlink.com/content/v7683t354pugn210/. Acesso em: 28/08/2012.
 
 

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